Desde que a Campanha Nacional de Multivacinação começou, no início de agosto, pais ou responsáveis têm sido incentivados a levar crianças e adolescentes de até 15 anos em unidades de saúde para receber a imunização contra doenças como coqueluche, sarampo, caxumba, rubéola, varicela, meningite meningocócica e pneumocócica, entre outras. Apesar da iniciativa seguir até 9 de setembro, uma das grandes preocupações do Estado e de Santa Maria é a poliomielite.
Com a baixa adesão em ações, a doença viral e contagiosa não está nem próximo de bater a meta de cobertura vacinal, que é de 95%. Em setembro de 2015, por exemplo, foram vacinadas mais de 11 mil crianças em Santa Maria, o que representou, naquela campanha, apenas 78,5% da meta estipulada pelo Ministério da Saúde, de 14,2 mil.
Em 2022, a situação é ainda mais grave. Até agora, apenas 21% das crianças até 4 anos está com o esquema vacinal completo. A situação preocupa especialistas, que não descartam o retorno da doença erradicada há mais de 30 anos no país.
Transmissão e sequelas
Conhecida por causar a paralisia infantil, a transmissão da poliomielite pode ocorrer por gotículas ao tossir, espirrar ou falar, assim como na ingestão de alimentos ou água contaminados com fezes de pessoas infectadas. Em mais de 90% dos casos, a infecção não é visível e o período de incubação pode levar de sete a até 30 dias.
– Os sintomas mais frequentes são febre, mal-estar, dor de cabeça e dor de garganta. Se a criança já estiver falando, consegue dizer se está doendo para deglutir. Ela também pode sentir dor no corpo, ter vômito, diarreia e, em alguns casos estudados, pode apresentar o oposto, como constipação. Geralmente essas crianças apresentam rigidez de nuca e não conseguem flexionar o pescoço para a frente. Na forma mais grave da doença ocorre flacidez muscular e elas acabam perdendo os movimentos dos membros inferiores – explica a doutora em Enfermagem e professora da Universidade Franciscana (UFN) Regina Santini Costenaro.
A doença é conhecida por deixar diversas sequelas, que vão além da paralisia:
– As sequelas, normalmente, estão relacionadas com infecção da medula do sistema nervoso. Por isso, as sequelas motoras acabam não tendo cura. A pessoa pode apresentar dor nas articulações, pé torto, crescimento das pernas em tamanhos diferentes, paralisia de uma das pernas, dificuldade de fala, atrofia muscular. Então, muitas dessas sequelas são difíceis de serem recuperadas.
Para evitar a doença e o comprometimento da qualidade de vida dos filhos, a vacinação contra a paralisia infantil deve ser prioridade.
– Às vezes, os pais pensam que se passou os dois, quatro e seis meses de idade e até esse período, a criança não fez a vacinação e não pegou a doença, ela não vai mais adquirir. Já ouvi pais dizerem isso. Só que o tempo da vacina não considera apenas o tempo limite que a criança pode se infectar, porque ela entra em contato com multifatores e ambientes variados. É por conta disso que a vacinação se faz tão importante, assim como o reforço. É importante que os pais se conscientizem sobre o que significa essa vacina e sobre como ela pode prevenir de sequelas – afirma a pediatra, enfatizando que não imunizar é considerado uma forma de negligência.
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Riscos
Estudo da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) em 2021 identificou que o Brasil é um dos países da América com alto risco de retorno do vírus da poliomielite. No Rio Grande do Sul, a situação também é preocupante. Uma análise, que considerou cobertura vacinal contra a doença, vigilância epidemiológica e outros fatores relacionados à saúde, indica que 42% dos municípios gaúchos se encontram em risco muito alto e 32% em alto risco, o que equivale 367 dos 497 municípios do Estado (74%).
De acordo com a médica pediatra Maria Clara Valadão, supervisora da residência médica em Infectologia Pediátrica no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), há uma baixa no nível de vacinação regular das primeiras três doses, que devem ser aplicadas em crianças aos 2, 4 e 6 meses de idade. Sem conseguir completar a primeira etapa, não é possível realizar o reforço, que ocorre aos 15 meses de idade e aos 4 anos.
Apesar de o último caso de pólio no Brasil ter sido registrado em 1989, Maria Clara alerta para o risco da não vacinação:
– É uma doença preocupante, porque também tem um alto número de óbitos. É algo que pode acontecer no país, assim como houve o retorno do sarampo. Há um receio generalizado da volta da poliomielite, e estamos realmente correndo esse risco.
A imunização é a melhor saída. Maria Clara enfatiza que as vacinas são seguras e que este é o melhor momento para reverter a queda acentuada da cobertura vacinal dos últimos dois anos. Caso contrário, Estados e municípios seguirão em estado de alerta para a volta de doenças consideradas erradicadas.
– Como não vemos muitos casos, a vacina é vítima do próprio sucesso. Como a população não entra em contato com os números, acaba subestimando o calendário vacinal. O risco de ressurgirem doenças antigas é grande, se não atingirmos pelo menos 90% da população que precisa ser vacinada – reforça Maria Clara.
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Meta é começar as ações de vacinação nas escolas da cidade nos próximos dias
Em Santa Maria, o índice de cobertura vacinal contra a poliomielite é considerado baixo.
– Temos até o início da campanha, mais de 20% da população elegível da campanha da pólio, ou seja, de zero a menores de 5 anos, que estão com esta vacina em dia – afirma a secretária adjunta de Saúde, Ana Paula Seerig.
Enquanto uma das gestoras da pasta, Ana Paula analisa o cenário, enfatizando que a meta de 95% de pessoas aptas vacinadas não é atingida há alguns anos, devido à redução da cobertura vacinal no país:
– Nos últimos dois anos, a questão da pandemia. Mas tivemos vários movimentos antivacina acontecendo nos últimos anos. Enquanto ente público, temos receio do retorno de doenças que são imunopreviníveis. Então, o nosso apelo junto à população para que leve as crianças para buscar esta imunização.
Para tornar acessível à imunização e mudar os índices, a Secretaria de Saúde deve disponibilizar doses contra a pólio em ações de vacinação em escolas, principalmente da Educação Infantil.
– Estamos fazendo o levantamento das escolas para saber como iremos articular e organizar essa força de trabalho – afirma Ana Paula.
Foto: Joyce Noronha (arquivo/Diário)
Esquema Vacinal
Conforme o calendário, o imunizante contra a poliomielite é aplicado de duas formas, de acordo com a idade da criança:
Vacina Poliomielite inativada (VIP)
Dose – 0,5 ml via intramuscularEsquema previsto – Três doses (aos 2, 4 e 6 meses)
Vacina Poliomielite atenuada (VOP)
Dose – Duas gotas, por via oral e em gotinhaEsquema – Reforço aplicado aos 15 meses de idade e aos 4 anos
Arianne Lima – [email protected]
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